#HashtagÉArte, artigo de Julia Turner

Ela surgiu para organizar o diálogo online no Twitter, mas floresceu e se tornou um dispositivo literário maravilhoso – e ainda pouco apreciado

O sinal de jogo da velha é um símbolo tipográfico com ambições. Por décadas, era um apêndice nos teclados de telefone, feito para ser apertado durante frustrantes horas à espera de algum serviço de atendimento ao consumidor. Mas, recentemente, tem conquistado novos territórios e pode ser vista na TV (#debate, por exemplo, durante as eleições deste ano), nos cinemas (#segureseufolego próximo a algum título de filme de terror) e até escrita pichada no estádio de seu time favorito (#GOHOGS no Razorback Stadium).
Isso aconteceu, claro, graças ao Twitter. Há cinco anos, os usuários do Twitter inventaram o que hoje é conhecido como hashtag: uma frase de efeito precedida por esse símbolo de oito braços, usada tanto para rotular ou comentar o tweet anterior (se esta frase fosse um tweet, #issoseriaahashtag). No início, hashtags eram principalmente utilitárias – uma forma de categorizar tweets por um tópico de forma que os integrantes da twittersfera pudessem seguir conversas que os interessassem através da busca por uma lista de tweets igualmente tagueados. Proposta pelo usuário Chris Messina, foi criada para reunir conversas a respeito da conferência de tecnologia BarCamp – a primeira hashtag foi, portanto, #barcamp. Outras marcações no início serviam principalmente como metadados, direcionando pessoas para tweets sobre notícias, eventos ou interesses específicos: #incendioemsandiego, #educação e por aí vai.
Com o tempo, ela evoluiu e se transformou em outra coisa – um formato que permite humor, tristeza, trocadilho e, sim, até mesmo poesia. Durante este mesmo período, o Twitter, enquanto empresa, reconheceu o poder da hashtag e agora ela faz parte do design, do linguajar e da forma de vender anúncios no site. Uma hashtag específica, por exemplo, permite o mundo saber quem está conversando sobre o lançamento do jogo #Halo4.
Assim, chegamos a um momento estranho para a hashtag. O pessoal do Twitter não cansa de dizer que a hashtag é a nova URL – e isso é tão verdade de forma que é mais provável que você veja a hashtag e não o endereço do site na tela logo que vê um trailer no cinema.
Ainda assim, a ascensão das possibilidades comerciais da hashtag não deve nos enganar sobre o que é realmente incrível sobre este formato. Esta marcação de curiosa utilidade digital, inventada apenas com a funcionalidade em mente, floresceu e tornou-se um dispositivo literário maravilhoso e ainda pouco apreciado.
(Julia Turner é editora-assistente da Slate. Tradução de Alexandre Matias.)
Leia o artigo na íntegra em http://blogs.estadao.com.br/link/hashtagearte/
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