Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há
pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que
estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais
despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque
não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas
da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece
o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da
matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a
acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar
a partir da dor.
Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em
outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia.
Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a
ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o
mundo reconhecesse a sua genialidade.
Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma
continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente,
que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que
queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se
traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.
Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que
ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a
vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito.
Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não
conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora:
viver é para os insistentes.
(Eliane Brum é jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e
internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da
Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago
Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo). E-mail: elianebrum@uol.com.br. Twitter: @brumelianebrum.)
Leia o artigo na íntegra em http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI247981-15230,00.html.
É para refletir mesmo: quanta coisa em comum, diferenças, acertos talvez.
ResponderExcluirQuem nos dera vendessem receitas na esquina...
É Léa... postei este artigo na condição de formador de (jovens) professores, mas, quando reflito sobre ele, meu lugar de pai também se faz presente.
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