"A maioria dos adolescentes não é porra-louca", entrevista com a cineasta Laís Bodanzky

"As melhores coisas do mundo", filme de Laís Bodanzky, estreia no dia 16. No filme, a diretora faz um retrato muito franco e fiel do que é ser adolescente nos dias de hoje. Confira alguns trechos da entrevista concedida a Laura Lopes, da Revista Época:

ÉPOCA – Vocês visitaram sete escolas para fazer o roteiro. Como elas foram escolhidas e como se deu esse processo?
LAÍS – Eu e o Luiz Bolognesi recebemos o convite para fazer uma história a partir da série de livros Mano, de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto. Mas tínhamos total liberdade para crirar uma história nova. Resolvemos consultar a fonte, porque a série indicava que seria um filme de um protagonista adolescente, do Mano, e a ideia é que esse filme conseguisse dialogar com o próprio adolescente. Achamos que seria saudável conversar com eles. Como o protagonista é de uma escola particular, resolvemos ir a várias escolas particulares aqui de São Paulo, mas de universos completamente diferentes. Então fomos ao Bandeirantes, Arquidiocesano, Sion, Santa Cruz, mas também ao Vera Cruz, Oswald de Andrade, que é a escola do Francisco, ao Equipe... escolas que têm formas muito peculiares de educação. Eram sempre grupos pequenos, de no máximo 10 pessoas, e conversas de uma tarde inteira e com muita intimidade. A gente abriu o jogo falando sobre o filme, e quando eles entenderam que era para falar sobre o mundo deles, eles se abriram completamente, entenderam que a gente precisava ouvir as histórias pessoais. E virou quase uma terapia em grupo. Eu me emocionei algumas vezes porque vieram histórias fortes, íntimas de família, do mundo da escola. E aí, nessas conversas, ficou claro que o filme tinha que passar boa parte dentro de uma escola, porque eles passam mais tempo na escola do que com a família.

ÉPOCA – O que você descobriu nessas conversas, desse mundo? O que você imaginava que fosse e não era?
LAÍS – A primeira percepção foi totalmente o contrário, que é muito próximo daquele sentimento que eu tive na minha adolescência. Eu ouvi os depoimentos, eles muitas vezes se achando incompreendidos, e é um sentimento universal você se achar o único diferente. Mas depois você percebe que o que acontece com você acontece com a grande maioria. E isso faz parte da fase do crescimento, deixar a infância para trás e na hora que você tem que andar com as próprias pernas e ter opinião sobre tudo, de repente você percebe que não sabe direito quem você é e isso causa insegurança. E você vai moldando, criando uma personalidade, uma maneira de ser única. Até então você ainda é muito a cria dos seus pais. Depois, passa a ter consciência e a responder pelos seus próprios atos. Eles sentem muita falta de serem ouvidos pela família, pela escola e pelos próprios amigos. O adolescente quer ser reconhecido pelo grupo, sempre.
[...]
 
ÉPOCA – E a questão da comunicação? Com as mídias sociais, internet, muita foto circulando – o que é mostrado no próprio filme. Você começou a ter Twitter depois do filme. O que você descobriu de novo na relação dos jovens com a difusão das informações?
LAÍS – Eu não tinha noção do quanto eles se comunicam através dessas redes sociais. E uma coisa engraçada é quando um adolescente se tranca no quarto e se isola. Na verdade ele se tranca e se une aos outros, ele não está isolado, muito pelo contrário, está online e com vários grupos ao mesmo tempo. O adolescente é muito concentrado em muitas coisas ao mesmo tempo, tem facilidade de sobrepor informações como um malabarista. Se de um lado você troca muito mais com o outro, a troca de informação é muito mais precisa e eficiente, você tem a possibilidade de muitos te ouvirem, ao mesmo tempo essa própria mídia pode de trair e virar seu pesadelo. Se perde o controle dessa mídia, é o caso do bullying – essa palavra que explica uma coisa que sempre existiu, e por causa da tecnologia ficou muito intensificada. Que é quando você isola alguém do grupo por considerá-lo diferente. Essa faixa de idade tem dificuldade para entender e compreender o que é diferente. O grande medo deles é se tornar o diferente e muitas vezes esse medo é tão grande, que antes que aconteça isso com eles, eles acusam o outro. E pode cair na internet e vira um tsunami, extrapola a sala de aula, extrapola o pátio do colégio, e extrapola o colégio. Essa tecnologia ajuda muito a formar essa geração. São pessoas muito bem informadas naquilo que os interessa, são excelentes pesquisadores e conhecedores.

Leia a entrevista na íntegra em http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI132284-15220,00-A+MAIORIA+DOS+ADOLESCENTES+NAO+E+PORRALOUCA+DIZ+LAIS+BODANZKY.html
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