Guia de carreiras: Letras


A maioria dos profissionais que se forma no curso superior de letras tem uma incumbência atualmente pouco valorizada: ensinar a língua portuguesa -- as regras, o uso prático e as principais obras -- às crianças e adolescentes do Brasil. Mesmo com o baixo retorno financeiro e o pouco status social da função, ela continua atraindo os vestibulandos por três motivos: a empregabilidade, as folgas nos fins de semana, feriados e férias escolares e, segundo quem atua na área, a satisfação pessoal.
"Todos os meus colegas de universidade estão muito satisfeitos, estão muito bem financeiramente, não tem ninguém reclamando e chorando porque fez péssima escolha", afirma Maurício Araújo, de 29 anos, que em 2008 se formou em letras pela Universidade de São Paulo e, hoje, dá aulas de português e literatura no cursinho pré-vestibular, o Instituto Henfil. (...)
Todos os cursos de letras estudam o português na faculdade, além do latim e, em vários casos, o grego, e exigem do estudante o gosto pela leitura e pela produção de texto. Segundo Filomena de Oliveira Azevedo Varejão, diretora adjunta de Ensino de Graduação da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o aluno, além de trabalhar os conceitos gramaticais e da construção do idioma, também aprende a ver a língua portuguesa de forma mais completa.
"Mostramos que toda língua humana é variável, apresenta diferentes normas, tem uma forma de usar o português que pertence a certa camada social, com determinado perfil sócio-econômico e educação, por exemplo", diz. (...)
Segundo Araújo, a atividade de professor no Brasil é complicada. "Cria-se dois universos, você tem o professor que trabalha nas boas escolas, que têm grande índice de aprovação na Fuvest, é um trabalho tranquilo, muito bem remunerado e organizado. Mas fora desse mundo, o segundo universo é o trabalho com educação numa sociedade que não costuma dar valor ao professor."
Hoje, o piso nacional para professores de ensino médio, com jornada semanal de 48 horas, é de R$ 1.451, mas nem todos os municípios e estados oferecem esse salário. Além disso, os professores de idiomas que dão aulas em cursos livres (oferecidos pelas escolas de idioma, fora do ensino regular) em São Paulo têm piso de R$ 4,50 pela hora-aula, e R$ 810 pelo salário de quem é registrado. "O professor é muito mais um autônomo do que um emprego tradicional, CLT", diz Araújo.
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