A peso de ouro: o que muda com a proliferação de grandes grupos privados na educação pública e particular do país


Quais os sentidos e objetivos da educação? Mais do que uma questão filosófica ou retórica, a pergunta ganha um sentido renovado frente à recente movimentação dos grupos educacionais privados - mais conhecidos como sistemas de ensino apostilados -,intensificada no início do segundo semestre de 2010.

Somente entre julho e agosto, foram fechados quatro grandes negócios. Em meados de julho, a Abril Educação comprou o Anglo - um dos grupos mais tradicionais do país. Um mês depois, o fundo de investimentos BR Investimentos comprou parte da Abril Educação, numa transação na faixa de R$ 200 milhões.

Ainda em agosto, a britânica Pearson, conhecida como o maior grupo editorial do mundo (leia-se Longmann e The Economist, entre outras marcas) entrou no jogo: assumiu o controle do Sistema Educacional Brasileiro (SEB), proprietário do COC, Pueri Domus e Dom Bosco. No final do mesmo mês, a Buffalo Investimentos adquiriu a operação de apostilas e treinamento docente do Universitário. No primeiro semestre, a Kroton Educacional adquiriu o Grupo Iuni (ensino superior), por R$ 600 milhões.

As empresas não revelam seu faturamento, mas estimativas da consultoria Hoper indicam que a receita do setor gira em torno de R$ 1 bilhão e que o número de alunos, considerando os dez maiores grupos - aproxima-se de 2,7 milhões (ou seja, 37% dos 7,3 milhões de matrículas na rede privada de Educação Básica em todo o país). E a presença dos sistemas estruturados de ensino não se restringe a escolas particulares; cada vez mais, estão sendo adotados pelas redes municipais, especialmente nas regiões mais ricas do país, como o Estado de São Paulo. Além disso, o modelo começa a ser adotado em grandes grupos de ensino superior.

Pesquisa da professora Theresa Adrião, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), indica que o número de prefeituras paulistas que adotam sistemas de ensino aumentou 14 vezes entre 2001 e 2009, saltando de 16 para 225.

Outro levantamento, realizado pela organização Observatório da Educação, concluiu que 23% das 645 prefeituras paulistas não aderiram ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) do Ministério da Educação (MEC) neste ano e, por isso, não receberão, em 2011, livros distribuídos gratuitamente pelo governo federal - o que está associado à utilização de material desenvolvido pela própria Secretaria de Educação ou, o que é mais comum, à preferência pela compra de sistemas estruturados desenvolvidos por empresas privadas.

Para Theresa, o fenômeno é preo­cupante. "O formato adotado por esses grupos para a oferta de serviços ao segmento educacional público reforça uma concepção de educação que se restringe à transmissão de conteúdos", analisa. "A educação - especialmente na Educação Básica - precisa ser muito mais do que um treino para provas e testes."

Ou seja, o que está em jogo é mais do que a opção por um ou outro tipo de material didático - livro, apostilas ou livros integrados (nome que o Positivo, o maior sistema educacional do país, atribui ao seu material didático). A questão que se coloca, emenda o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Romualdo Portela, é outra:

"O debate gira em torno da concepção educativa, na medida em que o material proposto pelos sistemas de ensino não dá conta de dimensões da educação que ultrapassam a transmissão de conteúdos, como a educação para os valores e para a cidadania. Dessa maneira, há um empobrecimento do que se entende por educação seja ela pública ou privada".

Leia na íntegra a matéria de Marta Avancini para a Revista Educação, edição 164, em http://revistaeducacao.uol.com.br/textos.asp?codigo=13041
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