"O apagão do ensino público médio", artigo de Paulo Ghiraldelli Jr.

Quando a imprensa fala em professor, em geral está se referindo ao docente universitário. A falta de salário digno para os professores da escola básica os transformou em fantasmas - metafórica e literalmente.

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a rede tem uma falta de 235 mil professores no ensino médio. Além disso, o contingente de professores existente é mal formado.

O resultado é um só: estamos a caminho de uma situação em que a maioria de nossa juventude terá o certificado de ensino médio, mas sem os conhecimentos que as deixariam em pé de igualdade com as juventudes de outros países, inclusive com as dos países economicamente piores do que o nosso.

Paulo Renato, ministro da Educação do governo FHC, concorda que os professores são mal pagos e aceita a ideia de que é isso que produz o número deficitário acima. O atual ministro, Fernando Haddad, também concorda com isso. Todavia, tal concordância não os faz não desviar do assunto "na hora H".

Leia o artigo na íntegra em http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=67747

(Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo e escritor, dirige o Centro de Estudos em Filosofia Americana (Cefa))
Comentários
3 Comentários

3 comentários:

  1. Professor, realmente o texto do filósofo Paulo Ghiraldelli(meu quase parente, rsrsr) aborda muitas verdades, mas como trabalho há mais de dez anos em escolas públicas posso dizer que o salário não é o maior fator responsável pelo "apagão" metáfórico e literal dos professores do Ensino Médio. Há muitos outros fatores bem sérios. As condições de trabalho, a meu ver ver, são decisivas. A indisciplina, alunos desmotivados, a carga horária elevada, a total falta de material pedagógico básico, o elevado número de alunos por sala, etc.
    Percebo que os professores iniciantes chegam com vontade de trabalhar, mas já vêm com aquela certeza de que será muito difícil, quase impossível ter bons resultados. Fico observando que, para eles, uma boa aula é aquela em que conseguem explicar bem determinado conteúdo. É aquela ideia dos "professores explicadores" explicitada por Pedro Demo, a razão de ser da escola... que resulta em algo assim: eu explico, você nem presta atenção, o Orientador dá broncas, o Supervisor inspeciona os livros de chamada e a Direção cuida da merenda e dos consertos. Está faltando interação na escola pública, enquanto cada um que estiver lá dentro não se voltar para o outro com o objetivo de construir o novo, não haverá muitas mudanças não.
    Com a transformação das identidades (de pais, mães, filhos, professores...) ocorrida nos últimos tempos, a autoridade foi abalada e não dá mais para insistir naquela aula "só eu falo". Como disse Jean-Pierre Lebrun (páginas amarelas da Veja desta semana), a hierarquia de pirâmide foi-se, agora somos uma rede, e portanto não há mais clima para impor ideias ou conhecimento, é preciso negociar.
    Além de um salário justo, o professor quer sentir realização profissional e já está mais do que divulgado que os alunos brasileiros não estão aprendendo como deveriam... um apagão é algo que já vem com aumentativo e não tem causas tão simples.

    Eu visito sempre o seu blog, gosto de ler os textos. Abraço, Helaine.

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  2. Helaine,

    Primeiramente, quero agradecer pela sua participação e parabenizá-la pela qualidade das suas argumentações.

    Eu concordo com você que somente um fator não explica o desprestígio da nossa profissão; porém, assim como (o outro) Ghiraldelli, também identifico a fonte do problema na questão salarial.

    Me chamou muito a atenção esta sua colocação:
    "É aquela ideia dos 'professores explicadores' explicitada por Pedro Demo, a razão de ser da escola... que resulta em algo assim: eu explico, você nem presta atenção, o Orientador dá broncas, o Supervisor inspeciona os livros de chamada e a Direção cuida da merenda e dos consertos. Está faltando interação na escola pública, enquanto cada um que estiver lá dentro não se voltar para o outro com o objetivo de construir o novo, não haverá muitas mudanças não."

    Só quem vive o cotidiano da escola e possui um olhar sensível e competente em relação a esta instância consegue trazer esta leitura para a gente.
    Estou entendendo, com base nas suas palavras, que na escola a burocracia - não um mal em si - muitas vezes tem se aliado à desresponsabilização pelo coletivo - talvez, dentro daquele espírito do "pra que fazer mais, se no final das contas o salário é o mesmo?".

    Obviamente, que este também é um problema dentre tantos outros, mas a particular forma com que você o apresenta, repito, me chamou muito a atenção.

    Um abração pra você.

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  3. Só para confirmar (mas imaginando que o comentário poderá ficar extenso outra vez) é isto mesmo, Professor,o que eu percebo. A burocracia é uma grande preocupação dentro da escola. E a nota é, na lógica escolar, o que mede a aprendizagem. Como não há incentivo algum para aqueles estabelecimentos que obtêm resultados de aprendizagem melhores, tudo gira em torno da nota. Os colégios são cobrados por número de aprovação e reprovação, logo, os professores são pressionados a não "passar dos limites" no final do ano letivo. O Conselho de Classe final é profundamente estressante.
    Nesta lógica, a aprendizagem é medida em termos de acertos, trabalhos, realização de atividades pelos alunos. O professor expõe o conteúdo, o aluno deve trabalhar a partir dele e depois deve devolvê-lo da mesma forma ao professor nas "avaliações". Mas isso não significa que ele de fato avançou, significa que ele apenas aceitou. A escola valoriza a nota e não a aprendizagem. Posso citar um exemplo: neste ano, durante um Conselho de Classe, não resisti e comentei que a turma em questão (oitava série com problemas de disciplina) tinha me deixado surpresa pela qualidade dos haicais que produziram. Percebi que o comentário foi descabido, pois apenas sorriram e exclamaram, nada mais. Interessante.
    Esta é a leitura que faço a partir da minha realidade, pode haver exceções, mas "o salário é o mesmo". (Realmente ficou longo!) Um abraço, Prof. Núbio, obrigada e bom final de ano. Helaine.

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